sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Numa casa de cômodos caindo aos pedaços, moram Dona Creuza e seu filho, um rapaz calado, seduzido pelos corpos masculinos que circulam pela pensão. Entre seus habitantes, justamente o mais contido é o que se mostra mais intenso, ao assumir uma paixão tão devastadora quanto efêmera com um novo morador. Rato é o pseudônimo do protagonista e narrador do romance de Luiz Capucho. Dele, o leitor conhece os sonhos e desejos, mas jamais o nome. O jovem é sustentado pela mãe, lavadeira e passadeira, e coabita com tipos bizarros, como bêbados, drogados, lunáticos, marinheiros e aposentados, entre outros moradores. Ele passa os dias nesta atmosfera embriagante, desejando os hóspedes mais jovens, deitado em seu beliche ou escrevendo na cozinha tendo uma garrafa térmica por companhia. Rato não trabalha, mas acredita que a literatura ainda vai salvá-lo e tirá-lo dessa realidade inebriante. Ao usar apenas um pseudônimo, Capucho faz de Rato ao mesmo tempo todos e qualquer um. A máscara encobre o nome de seu protagonista, mas o deixa livre para escancarar sentimentos, exacerbar impressões, descrever detalhes de dor e de prazer. Com habilidade, Capucho descreve o ambiente, os personagens exóticos e a singeleza da mãe de Rato, que o sustenta e acho isso normal, a rotina de tédio e tesão do rapaz. Conquistado pela narrativa, o leitor se surpreende pela agudeza da percepção, da visão de mundo de Rato, que mesmo em seu restrito universo vivido, percebe seu tempo com uma sensibilidade profunda e cortante.
Hoje vou falar de um livro que me chamou atenção de primeira. Conheci a obra em uma das super promoções que rolam na internet, e quando li a sinopse fiquei louca para ler. Trata-se de um livro denso, difícil de mastigar, difícil de digerir terrível e maravilhoso. Tem como ser mais contraditório e, ao mesmo tempo, fazer tanto sentido?
Este livro é tratado de forma crua, mostrando o lado mais obscuro do ser humano – aquele que todos tentam esconder dos outros: o lado perverso.
Rato (o nome não é dito em momento algum) é um cara que mora em uma pensão com a mãe – eles cuidam deste local, onde só frequentam homens. É lá que as fantasias de Rato rolam soltas. O protagonista apresenta a casa/pensão (o Casarão) de forma detalhada: cada cômodo tem suas peculiaridades, assim como seus habitantes bem delineados. Rato é gay e tem desejos por alguns homens hospedados na pensão. 

As confusões mentais que Rato passa, poderiam passar na cabeça de qualquer pessoa – claro que o autor abordou o homossexualismo, mas é interessante analisar com outros temas: drogas/vícios em geral, transtornos compulsivos, entre outros elementos que poderiam deixar a pessoa em questão à margem de uma sociedade controladora, cheia de falsas morais e caótica, ao mesmo tempo. Rato se mostra forte, porém é frágil – “máscara” que muitos utilizam até mesmo como defesa. Como o autor não cita o nome do protagonista, os sentimentos tornam-se identificáveis em qualquer pessoa.
Preciso dizer que AMEI esse livro! Contém todos os elementos necessários para que o leitor possa olhar para dentro dele mesmo e enxergar o que tem de pior – sim, todos nós temos um lado pior. Um trabalho antropológico magnífico, onde os elementos humanos são distintos, bem relacionados, além de muito bem minudenciados.
O autor tem bom gosto para escrever! Algumas cenas, que poderiam ser grotescas, Luis Capucho deixa apenas um gostinho para a imaginação do leitor – o que é bom demais (adoro quando o autor faz isso). Vou dizer que talvez Rato possa chocar algumas pessoasprincipalmente quem ler a obra com conceitos pré-formados, principalmente durante as cenas sexuais – sim, ele é um cara normal que faz sexo, ué!

Luis Capucho mostra exatamente o cotidiano destes personagens, não apresentando grandes eventos – deixando poucas ou nenhuma marca profunda em nosso protagonista, o que é interessante de analisar: se não há grandes marcas, não há grandes passagens pela vida. Então, se não há marcas, há o quê? Ele fez o quê? São questões que o leitor deste livro deve fazer.
Claro que não é um livro perfeito! Algumas passagens são mais “pobres”, sem tanto entusiasmo ou profundidade, porém os pontos positivos prevalecem. Ah, e não posso dizer que é um livro alegre: muito pelo contrário, é triste – já que mostra as confusões e preconceitos do ser humano. Ao final do livro você não sabe se está dentro ou fora da história.
Claro que eu recomendo a leitura. Mas aviso: Leiam sem pré-conceitos! O segredo não é a leitura, é a interpretação da obra!

Ps: Sabe, acho que fiquei com complexo de Luis Capucho! (se não sabe o que é este complexo, visite esta página: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2638)

7 comentários:

  1. Amei a resenha. Logo mais lerei outras resenhas do blog, é que essa me interessou mais...rsrs
    Eu gostei do tema do livro e não vejo a hora de ler...:)

    Beijos

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  2. Uai! Adorei a resenha e esse livro me despertou curiosidade. Não sei se o compraria logo, mas sem dúvida vou acrescentá-lo à minha lista interminável.

    Bjs!

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  3. Essa capa não me dizia nada. Eu fui totalmente alheia a ela, até a sua resenha.
    Livro bem interessante, apesar do tema homossexual.

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  4. Confesso que não me interessei muito por esso livro não... Acho que foi pelo título =x
    Achei legal o autor abordar esses assuntos.
    Eu não gosto de ler histórias tristes, é... muito triste! kkkkk
    Gostei da resenha, bem construtiva =)

    Bjs

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  5. Gostei da resenha.... mas o título não chama atenção... a sinopse achei mais ou menos...
    Mas eu gostei de ler sua opinião... é sempre bom que usem temas atuais. Mas não faz meu estilo...

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  6. adorei a resenha,o seu ponto de vista, Camila! Obrigado!

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  7. O livro pode ser um pouco sufocante, mas não é triste. Além de bem escrito é fiel com o tempo e o local da estória. O Luis Capucho tem um blog (Blog Azul) muito interessante onde, por vezes, coloca suas impressões a respeito dos vizinhos.

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