“Caso algum dia alguém reúna esses
documentos que deixarei escritos ou, quem sabe gravados, eu recomendo que,
com cuidado, os fatos sejam analisados e revelados para o povo brasileiro e a
quem interessar, como a única forma que tenho de me redimir, mesmo após minha
morte”. A fala é do Carioca, o narrador principal do livro “Sem Vestígios”,
da jornalista Taís Morais, autora do também polêmico “Operação Araguaia – os
arquivos secretos da guerrilha. A autora, que recebeu este diário
confidencial, deu voz ao militar, ex-agente secreto da ditadura, que nos traz
revelações espantosas sobre as ações de quem,em nome da defesa da democracia,
combatia os grupos de esquerda prendendo, interrogando, torturando e
executando pessoas, algumas delas inocentes. “Sem vestígios – revelações de
um agente secreto da ditadura militar brasileira” é um livro quase
inacreditável, de embrulhar o estômago.
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Bem, para quem não lembra o que
foi esse período de barbárie no nosso país, vou refrescar a memória.
A Ditadura Militar no Brasil
iniciou em 31 de março de 1964, com a queda do presidente João Goulart (Jango), que
assumiu após a renúncia de Jânio Quadros. Foi taxado de comunista, em razão de
viagens que fazia à China – e também tem uma pontinha o fato de Jânio ter
condecorado Che Guevara, guerrilheiro de Cuba (que presente de Jânio para Jango,
hein!). A justificativa dos militares para o golpe? Estavam evitando a invasão
do comunismo no Brasil – deixa eu contar que os EUA foram os principais
incentivadores do golpe. Vale lembrar que neste período há o auge da Guerra
Fria – ou você está do lado da União Soviética ou dos EUA, você escolhe e
espera as consequências.
Em 1968 o Ato Institucional nº 5
(AI-5) suspendeu a Constituição de 1946 e implantou a censura, deteve a
liberdade individual e permitiu que os militares investissem e prendessem
qualquer um considerado suspeito de “comunista”. Veja bem, nesta época a imagem
que o governo brasileiro passava sobre o comunismo não era real; para ter
ideia, foi aí que surgiu a expressão: “comunista, devorador de criancinhas”.
Ao total foram cinco presidentes durante a Ditadura (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo). Terminou somente
em 1985 com a eleição do civil Tancredo Neves, que por sinal nem chegou a usar
a faixa, mas essa é outra história...
Vamos a uma parte específica
do período: as torturas. É sabido que houve muitos tipos de tortura, e não cabe
os citar aqui, mas muitas pessoas morreram nas mãos de militares. As que não
morreram, ficaram com sequelas, tanto físicas quanto psicológicas. Tanto os
guerrilheiros (apoiavam o comunismo) quanto pessoas que nada tinham a ver com a
perseguição, foram espancadas, torturadas, humilhadas pelos militares. Porque
eles não pensavam por conta própria que isso era errado? Vamos saber agora, com
um livro muito interessante, que conta sobre as torturas sob a perspectiva de
um militar, de um torturador!
Estima-se que, no mínimo, 50 mil
pessoas foram presas, 20 mil torturadas e outros milhares foram exilados e
cassados.