Século XV: Kaori, uma bela
garota com o perfume da sedução, trilha caminhos perigosos entre samurais,
senhores feudais, prostitutas e criaturas mágicas do folclore japonês. No seu
caminho, surge José Calixto, um artista sensível e apaixonado, capaz de tudo
para dar vida a uma obra imortal.
Século XXI: na fervilhante
Avenida Paulista, coração de São Paulo, Samuel Jouza tem uma profissão
peculiar. Ele observa vampiros para um misterioso instituto de pesquisas. Mas o
olheiro percebe que a sua profissão é muito mais perigosa do que imaginava, ao
salvar um menino das garras dos sanguessugas.
De um lado, a magia das
sagas heróicas de samurais, o mistério das antigas lendas do Japão. Do outro,
uma aventura ágil e atual, que tem como cenário o Brasil. Dois universos se
entrelaçam e se cruzam neste novo romance de vampiros escrita por Giulia Moon.A
história começa em 1647 no Japão e “termina” em 2008 no Brasil.
Livro recebido em parceria com a
Giz Editorial.
A história começa em 1647 no
Japão e “termina” em 2008 no Brasil.
Os capítulos estão estruturados
de uma maneira original: Há o capítulo I que começa em 1647, e o capítulo 1 que
começa em 2008 (um seguido do outro). Aí volta para o capítulo II em 1647, e o
capítulo 2 em 2008 – e assim, distribuídos em algarismos romanos e arábicos,
sucessivamente. Não, o leitor não se
perde. Na verdade esta estrutura ficou muito bem organizada, visto que podemos
saber como aconteceu a transformação de Kaori em vampira e sobre sua vida
noturna 361 anos depois.
Vamos às personagens:
Samuel Jouza é um vampwatcher, um
olheiro de vampiros, da IBEFF (Instituto Brasileiro de Estudo de Fenômenos
Fantásticos). Seu emprego lhe paga mal, mas ele faz algo que gosta. Seu
trabalho é catalogar os vampiros de São Paulo. Homem de meia idade, gosta de
viver sozinho.
Kaori é uma menina que trabalha
em uma taverna de seu pai, assando dangôs (bolinhos japoneses recheados com
feijão doce) para os viajantes que ali passam. Por ser de origem pobre e muito
bela, Missora, a dona do bordel da região, propõe ao pai que venda a menina.
Ele não aceita, mas ela consegue o que quer. Inclusive Missora é um caso a
parte! É vampira e em determinado momento ela perde a língua. O que ela faz?
Bem, ela pega a língua de outro ser (vivo ou recentemente morto) e a implanta
em sua boca para que possa falar. Depois que passa o tempo de decomposição
normal de um tecido morto, ela se desfaz da língua antiga e consegue outra.
Também merece destaque especial a
bióloga Beatriz Semper. Assim como Samuel, trabalha para o IBEFF, mas estuda os
famélicos. Espécie de lobisomens – e já vamos falar sobre eles.
Coloquei as personagens que
ganham maior destaque durante a narrativa, apesar de quase todas serem
fundamentais para a composição do texto. De forma geral, as personagens são bem
estruturadas, os detalhes são colocados de forma que são identificáveis em
seres humanos, realmente. Nada fora do comum. Os sentimentos conflitantes são
bem estimulados e trabalhados.
Os vampiros de Giulia Moon são
mais parecidos com os tradicionais da literatura: queimam ao sol, implantam memórias e,
apesar de beberem sangue de animais para sobreviver, preferem o sangue humano,
que contém mais nutrientes para eles.
Giulia traz também outros
fenômenos além dos vampiros, como os famélicos – seres semelhantes aos
lobisomens e são considerados inferiores aos amigos sugadores de sangue. Fazem
a limpeza, já que comem os corpos que os vampiros deixam para trás. A autora também
traz o Nekomata, que é uma
assombração criada com as energias humanas acumuladas. Originalmente em forma
de gato de duas caldas, consegue tomar o corpo de um morto e o utilizar por
tempo indeterminado – o Nekomata é
próprio do folclore oriental.
O primeiro encontro entre Samuel
e Kaori se dá em um conto do livro
Amor Vampiro, mas isso não impede a
interpretação deste volume – apesar de o leitor entender com mais facilidade
alguns detalhes da trama após ler o conto.
Trata-se de um livro mais denso,
carregado de cultura e turbulências. E exatamente por isso, demorei em ler o
texto – às vezes precisava de uma leitura mais fluida para espairecer um pouco.
O vocabulário é extenso, o que acaba sendo uma experiência memorável.
Uma coisa me incomodou: em vários
momentos, os acontecimentos demoravam a incidir. E isso cansava, já que eu
ficava querendo saber o que iria acontecer e nada de interessante ocorria.
E tenho que dizer: gamei na
tatuagem da Kaori! Um dragão vermelho e reluzente em sua coxa (é que sou doida
por tatuagens!). Quem fez foi o brasileiro Calixto, na década de 1850,
utilizando sangue em sua mistura para que fixasse, já que somente a tinta não
impregnava no corpo da vampira.
Interessantíssimo como a autora
vai expondo elementos da cultura nipônica ao longo do texto. A história do
Japão colocada é concisa de acordo com as datas escritas. Além de expressões,
costumes, superstições. E isso de forma leve, sem forçar a leitura.
Pontos Negativos: Alguns diálogos são rasos, não convencem o
suficiente (acredito que pelo fato de alguns diálogos requererem orações mais
simples. O emprego demasiado de palavras que não utilizamos em nosso dia a dia
não gerou credibilidade – para mim). E o fato de o texto ser bastante denso, me
deixou um pouco cansada durante a leitura.
Pontos Positivos: A descrição das personagens e dos momentos de
luta. Perturbadores e ótimos. Kaori é uma personagem única. Diva! Outra coisa: a analogia que a autora faz com
uma das personagens do livro com a personagem principal do filme “Laranja
Mecânica” é fascinante! É claro que eu não vou contar como aconteceu, já que
esta foi umas das partes que mais marcou para mim. A estrutura mental
descontrolada ficou visível neste capítulo.
De modo geral, posso afirmar que é um livro interessantíssimo. Se você curte vampiros, não deixe de ler Kaori. Não vai se arrepender!
P.S: Maior atenção aos momentos finais
(especificamente 50 últimas páginas)! É de ler em um fôlego só, sério. Ninguém
é o que aparenta ser, você pensa que é um personagem aleatório, mas é alguém
fundamental. Gente, um escândalo!