Em 15 de
agosto de 1909, Euclides da Cunha invadiu a casa do bairro carioca da Piedade
onde morava o jovem tenente Dilermando de Assis, amante de Dona Saninha,
mulher do escritor, disposto a matá-lo. Poucos minutos depois, no entanto,
foi o autor de “Os Sertões” quem perdeu a vida, atingido por três balas do
revólver do militar.
Este
livro relata os meses que antecederam a tragédia e mostra que, ignorando
fatos, a imprensa da época transformou Dilermando em vilão, rótulo que o
perseguiu até o fim. A maioria dos jornalistas e escritores que acompanhou o
ocorrido concordava com a idéia de que Euclides estava no seu direito, quando
decidiu tirar a vida do seu rival. Essa opinião encontrou respaldo na opinião
pública, que crucificou Dilermando, mesmo depois de ele ter sido considerado
inocente pelos tribunais. Poucos seriam aqueles que, não levando em conta a
versão cristalizada do ocorrido, levantariam dúvidas sobre a versão dos
fatos.
“A mim a
tragédia Euclides-Dilermando me abalou profundamente. Sobre ela meditei muito
tempo, dominado pela incerteza. Mas quando conheci todos os detalhes do
processo, só então vi, senti em tudo a mão glacial e inexorável da fatalidade
– a mesma que levou aos seus crimes o inocente Orestes. E uma coisa até hoje
me pergunto: haverá uma só criatura normal das que olham Dilermando com
horror, que dentro do quadro daquelas circunstancias, não fizesse a
mesmíssima coisa?”, questionava-se em 1916 o escritor Monteiro Lobato.
Em Matar
Para Não Morrer, a historiadora Mary Del Priore examina o triângulo amoroso
entre Euclides, Dona Saninha e Dilermando, mas não fica restrita a ele,
analisando também seu pano de fundo histórico. Valendo-se de uma vasta
pesquisa, a autora revela que Euclides não agiu como exceção, quando achou
que era a hora de matar ou morrer, repetindo os passos de milhares de outros
homens que, estimulados pela sociedade, pegaram em armas para tentar limpar
seus nomes.
Um
retrato, pintado com sangue, de um duelo sem vencedores, só vítimas. O
resultado surpreendente prova que, em nome de valores civilizados, como
justiça e honra, justifica-se o injustificável.
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Acredito
que vocês já estejam cansados da minha ladainha de amor à escritora Mary
Del Priore! Mas é que, gente, ela é excelente. Ela é demais! Sem dúvida, minha autora nacional de livros não
ficcionais favorita!
Matar
Para Não Morrer não é um livro chato, monótono – de forma alguma! É dinâmico, com
narrativas e diálogos de deixar o leitor sem fôlego! A Mary sabe cortar o
capítulo na hora certa – deixando a gente querendo mais!
Esta
história (real) fala sobre o triângulo amoroso entre Dona Saninha, Euclides da Cunha
e Dilermando de Assis. Veja bem: Euclides não dava atenção à sua mulher –
era um traste, na verdade. Então ela encontrou carinho nos braços do militar Dilermando de Assis – aí vocês podem me falar: “Ela não devia
trair o marido” ou “Por que não se separavam” ou qualquer coisa do gênero. Aí eu digo para vocês: Era início do
século XX, uma sociedade patriarcal, machista, onde a mulher não tinha voz.
Deveria viver para servir os maridos e os filhos. Aí quando o marido é ausente
e bruto, a coisa piora né?! É! Além disso, uma separação era muito
mal vista na sociedade do período – uma
desonra – e em geral, culpa da mulher. Claro
que a traição era algo que acontecia – só que tudo era muito velado, e
somente ao homem era permitido! Quando a coisa era com a mulher, o homem TINHA
que “lavar a sua honra”; e lavava
como? Com sangue! – Que horror...
Voltando
à história: Dona Saninha se
relacionou com Dilermando –
inclusive teve um filho com ele (enquanto Euclides
estava longe). Então o que o bruto fez? Deixou o filho longe da mãe – e acabou morrendo de inanição após 8 dias –
que horror! Porém, algum tempo depois Dona Saninha
teve outro filho com Dilermando –
que sobreviveu, apesar de ser mal tratado por Euclides.
Bem,
quando não deu mais para segurar a onda, Euclides
resolveu “lavar a honra” e foi atrás
do amante, com um revólver na mão. Chegou à pensão e atirou contra o irmão de Dilermando e contra o próprio amante –
porém, como este último era atirador de elite, devolveu o tiro com maior
precisão, matando
Euclides da Cunha.
Começa
aí a tortura de Dilermando – taxado como
bandido, enquanto Euclides é tido como
“mártir” – mas, foi realmente assim? O que Dilermando
fez? Apaixonou-se por uma mulher casada! Mas
isso é um delito?
Em
tempo, gostaria de registrar: Dilermando
queria que Dona Saninha separasse do
Euclides e fosse morar com ele!
Mais
tarde, o filho de Euclides (Quindinho) tentou “lavar a honra” de seu pai – e acabou morto. Mais um julgamento para Dilermando!
Mais um sacrifício!
Depois
de absolvido, os protagonistas da nossa história se casam e tem mais filhos.
Gente,
este é um livro pequeno – pouco mais de
140 páginas. Com uma narrativa leve, por vezes engraçada, dinâmica, o leitor
acaba a obra em pouco tempo. Como fala da história real somada ao contexto da
época, Mary nos presenteia com um livro
delicioso, onde é possível estudar a história do Brasil e, ao mesmo tempo,
degustar uma ótima história – que parece
ficção, de tantos eventos que possui!
Posso
dizer que “Matar Para Não Morrer” é
um relato da submissão das mulheres do final do século XIX e início do XX, onde
mostra, com detalhes, como as mulheres eram usadas em favor dos homens nesta “sociedade viril”. Mostra como o homem
fazia justiça com as próprias mãos – afinal, tinha que mostrar a sua “macheza”. Além de desmistificar a
imagem dos amantes e de Euclides –
que, como podemos ver, não foi santinho, não!
Posso
garantir que me emocionei, ri, senti náuseas, enfim todo tipo de sentimentos –
a narrativa realmente estimula e prende o leitor até a última página!
Óbvio que recomendo a todos! Leiam,
leiam, leiam!
Quanto mata-mata, hein? kkkkkkk
ResponderExcluirTambém naquela época as coisas só eram resolvidas assim...
Achei a história bem interessante.
Lendo a sua resenha, lembrei do livro 1822, não sei por quê. kkk Agora vou lê-lo para saber mais sobre a história do Brasil. rs
Bjs
Uauuu
ResponderExcluirBem eu não conheço essa autora... hahaha... primeira resenha que leio sobre livros dela... mas eu gostei bastante, tanto da sinopse quanto da sua resenha, fiquei interessada especialmente, pois devo confessar que nunca soube desta história. XD
Euclides pediu mesmo para morrer.... uma pena que ela não ter conseguido um divórcio, naqueles tempos era terrível mesmo... infelizmente o lance de lavar a honra ainda é usado por muitos...