Numa
casa de cômodos caindo aos pedaços, moram Dona Creuza e seu filho, um rapaz
calado, seduzido pelos corpos masculinos que circulam pela pensão. Entre seus
habitantes, justamente o mais contido é o que se mostra mais intenso, ao assumir
uma paixão tão devastadora quanto efêmera com um novo morador. Rato é o
pseudônimo do protagonista e narrador do romance de Luiz Capucho. Dele, o
leitor conhece os sonhos e desejos, mas jamais o nome. O jovem é sustentado
pela mãe, lavadeira e passadeira, e coabita com tipos bizarros, como bêbados,
drogados, lunáticos, marinheiros e aposentados, entre outros moradores. Ele
passa os dias nesta atmosfera embriagante, desejando os hóspedes mais jovens,
deitado em seu beliche ou escrevendo na cozinha tendo uma garrafa térmica por
companhia. Rato não trabalha, mas acredita que a literatura ainda vai
salvá-lo e tirá-lo dessa realidade inebriante. Ao usar apenas um pseudônimo,
Capucho faz de Rato ao mesmo tempo todos e qualquer um. A máscara encobre o
nome de seu protagonista, mas o deixa livre para escancarar sentimentos,
exacerbar impressões, descrever detalhes de dor e de prazer. Com habilidade,
Capucho descreve o ambiente, os personagens exóticos e a singeleza da mãe de
Rato, que o sustenta e acho isso normal, a rotina de tédio e tesão do rapaz.
Conquistado pela narrativa, o leitor se surpreende pela agudeza da percepção,
da visão de mundo de Rato, que mesmo em seu restrito universo vivido, percebe
seu tempo com uma sensibilidade profunda e cortante.
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Hoje vou falar de um livro que me
chamou atenção de primeira. Conheci a obra em uma das super promoções que rolam
na internet, e quando li a sinopse fiquei louca para ler. Trata-se de um livro
denso, difícil de mastigar, difícil de digerir – terrível e maravilhoso. Tem
como ser mais contraditório e, ao mesmo tempo, fazer tanto sentido?
Este livro é tratado de forma
crua, mostrando o lado mais obscuro do ser humano – aquele que todos tentam
esconder dos outros: o lado perverso.
Rato (o nome não é dito em momento algum) é um cara que mora em uma pensão
com a mãe – eles cuidam deste local, onde só frequentam homens. É lá que as
fantasias de Rato rolam soltas. O protagonista apresenta a casa/pensão (o
Casarão) de forma detalhada: cada cômodo tem suas peculiaridades, assim como
seus habitantes bem delineados. Rato é gay e tem desejos por alguns homens
hospedados na pensão.
As confusões mentais que Rato
passa, poderiam passar na cabeça de qualquer pessoa – claro que o autor abordou
o homossexualismo, mas é interessante analisar com outros temas: drogas/vícios
em geral, transtornos compulsivos, entre outros elementos que poderiam deixar a
pessoa em questão à margem de uma sociedade controladora, cheia de falsas morais e caótica, ao mesmo
tempo. Rato se mostra forte, porém é frágil – “máscara” que muitos utilizam até
mesmo como defesa. Como o autor não cita o nome do protagonista, os sentimentos tornam-se identificáveis em qualquer pessoa.
Preciso dizer que AMEI esse
livro! Contém todos os elementos necessários para que o
leitor possa olhar para dentro dele mesmo e enxergar o que tem de pior – sim,
todos nós temos um lado pior. Um trabalho antropológico magnífico, onde os
elementos humanos são distintos, bem relacionados, além de muito bem minudenciados.
O autor tem bom gosto para
escrever! Algumas cenas, que poderiam ser grotescas, Luis Capucho deixa apenas
um gostinho para a imaginação do leitor – o que é bom demais (adoro quando o
autor faz isso). Vou dizer que talvez Rato possa chocar algumas pessoas –
principalmente quem ler a obra com conceitos pré-formados, principalmente
durante as cenas sexuais – sim, ele é um cara normal que faz sexo, ué!
Luis Capucho mostra exatamente o
cotidiano destes personagens, não apresentando grandes eventos – deixando
poucas ou nenhuma marca profunda em nosso protagonista, o que é interessante de
analisar: se não há grandes marcas, não há grandes passagens pela vida. Então, se
não há marcas, há o quê? Ele fez o quê? São questões que o leitor deste livro
deve fazer.
Claro que não é um livro
perfeito! Algumas passagens são mais “pobres”, sem tanto entusiasmo ou
profundidade, porém os pontos positivos prevalecem. Ah, e não posso dizer que
é um livro alegre: muito pelo contrário, é triste – já que mostra as confusões
e preconceitos do ser humano. Ao final do livro você não sabe se está dentro ou
fora da história.
Claro que eu recomendo a leitura.
Mas aviso: Leiam sem pré-conceitos! O segredo não é a leitura, é a
interpretação da obra!
Ps: Sabe, acho que fiquei com
complexo de Luis Capucho! (se não sabe o que é este complexo, visite esta
página: http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=2638)
Amei a resenha. Logo mais lerei outras resenhas do blog, é que essa me interessou mais...rsrs
ResponderExcluirEu gostei do tema do livro e não vejo a hora de ler...:)
Beijos
Uai! Adorei a resenha e esse livro me despertou curiosidade. Não sei se o compraria logo, mas sem dúvida vou acrescentá-lo à minha lista interminável.
ResponderExcluirBjs!
Essa capa não me dizia nada. Eu fui totalmente alheia a ela, até a sua resenha.
ResponderExcluirLivro bem interessante, apesar do tema homossexual.
Confesso que não me interessei muito por esso livro não... Acho que foi pelo título =x
ResponderExcluirAchei legal o autor abordar esses assuntos.
Eu não gosto de ler histórias tristes, é... muito triste! kkkkk
Gostei da resenha, bem construtiva =)
Bjs
Gostei da resenha.... mas o título não chama atenção... a sinopse achei mais ou menos...
ResponderExcluirMas eu gostei de ler sua opinião... é sempre bom que usem temas atuais. Mas não faz meu estilo...
adorei a resenha,o seu ponto de vista, Camila! Obrigado!
ResponderExcluirO livro pode ser um pouco sufocante, mas não é triste. Além de bem escrito é fiel com o tempo e o local da estória. O Luis Capucho tem um blog (Blog Azul) muito interessante onde, por vezes, coloca suas impressões a respeito dos vizinhos.
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