sexta-feira, 29 de junho de 2012


“Caso algum dia alguém reúna esses documentos que deixarei escritos ou, quem sabe gravados, eu recomendo que, com cuidado, os fatos sejam analisados e revelados para o povo brasileiro e a quem interessar, como a única forma que tenho de me redimir, mesmo após minha morte”. A fala é do Carioca, o narrador principal do livro “Sem Vestígios”, da jornalista Taís Morais, autora do também polêmico “Operação Araguaia – os arquivos secretos da guerrilha. A autora, que recebeu este diário confidencial, deu voz ao militar, ex-agente secreto da ditadura, que nos traz revelações espantosas sobre as ações de quem,em nome da defesa da democracia, combatia os grupos de esquerda prendendo, interrogando, torturando e executando pessoas, algumas delas inocentes. “Sem vestígios – revelações de um agente secreto da ditadura militar brasileira” é um livro quase inacreditável, de embrulhar o estômago. 


Bem, para quem não lembra o que foi esse período de barbárie no nosso país, vou refrescar a memória.

A Ditadura Militar no Brasil iniciou em 31 de março de 1964, com a queda do presidente João Goulart (Jango), que assumiu após a renúncia de Jânio Quadros. Foi taxado de comunista, em razão de viagens que fazia à China – e também tem uma pontinha o fato de Jânio ter condecorado Che Guevara, guerrilheiro de Cuba (que presente de Jânio para Jango, hein!). A justificativa dos militares para o golpe? Estavam evitando a invasão do comunismo no Brasil – deixa eu contar que os EUA foram os principais incentivadores do golpe. Vale lembrar que neste período há o auge da Guerra Fria – ou você está do lado da União Soviética ou dos EUA, você escolhe e espera as consequências.
Em 1968 o Ato Institucional nº 5 (AI-5) suspendeu a Constituição de 1946 e implantou a censura, deteve a liberdade individual e permitiu que os militares investissem e prendessem qualquer um considerado suspeito de “comunista”. Veja bem, nesta época a imagem que o governo brasileiro passava sobre o comunismo não era real; para ter ideia, foi aí que surgiu a expressão: “comunista, devorador de criancinhas”.
Ao total foram cinco presidentes durante a Ditadura (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo). Terminou somente em 1985 com a eleição do civil Tancredo Neves, que por sinal nem chegou a usar a faixa, mas essa é outra história...

Vamos a uma parte específica do período: as torturas. É sabido que houve muitos tipos de tortura, e não cabe os citar aqui, mas muitas pessoas morreram nas mãos de militares. As que não morreram, ficaram com sequelas, tanto físicas quanto psicológicas. Tanto os guerrilheiros (apoiavam o comunismo) quanto pessoas que nada tinham a ver com a perseguição, foram espancadas, torturadas, humilhadas pelos militares. Porque eles não pensavam por conta própria que isso era errado? Vamos saber agora, com um livro muito interessante, que conta sobre as torturas sob a perspectiva de um militar, de um torturador!
Estima-se que, no mínimo, 50 mil pessoas foram presas, 20 mil torturadas e outros milhares foram exilados e cassados.

E é aí que a autora e jornalista Taís Morais entra! Ela conseguiu reunir cartas de um dos agentes militares, que falam sobre as torturas e acontecimentos da época. Em nenhum momento Taís revela a verdadeira identidade do autor das cartas, apenas o chama de Carioca. Devo admitir que não gosto da maneira como ela narra, misturando presente e passado de forma confusa. Porém, o conteúdo de seu livro é interessantíssimo e válido.
Ao longo da narrativa de Carioca podemos analisar a lavagem cerebral que ele alega ter sofrido: o senhor com maior poder que ele mandava, ele cumpria. Simples assim! Para ser bom oficial naquela época era necessário obedecer às ordens, não questioná-las. Pensar não lhes era permitido. Fico me perguntando se nas cartas oficiais há alguma descrição detalhada das torturas ou algo assim, pois durante todo o livro não há. Acredito que a autora quis, de alguma forma, preservar a memória de quem passou por isso, não revelando detalhes das operações.
Carioca afirma que muitos militares adoravam o que faziam, mas é evasivo na questão pessoal. Fala sobre as perseguições aos guerrilheiros, da rotina e de como era difícil estar em casa. Afinal, ele era um agente secreto do governo. Sempre deixando clara a lavagem cerebral que o governo fazia em seus agentes.

A autora fala, por exemplo, sobre as cobras usadas para obter confissões, além de outros métodos de tortura, muito desgastantes mesmo para escrever aqui - imagine você em uma sala minúscula com cobras enormes e o detalhe: você só sai se confessar! Você fala até o que não sabe, no fim das contas! Fala, ainda, sobre as mortes após a tortura “habitual” e sobre a maneira como se livravam dos corpos.
Enfim, o texto é pesado, mas não teria como ser diferente. O clima é desgastante, mas mesmo assim trás a realidade de um passado nada bonito de nosso país. É uma obra que merece ser lida, sim, e como não tem detalhes sangrentos, você vai conseguir dormir a noite. Não se preocupe!

Ou você realmente acha que os “desaparecidos” durante a ditadura simplesmente se perderam?



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7 comentários:

  1. Esse livro parece ser bem interessante... ;)





    http://www.etecetera-e-tals.com/

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  2. Senti calafrios apenas com a resenha...
    Foi um período de atrocidades...
    Não duvido que fossem obrigados... afinal poderiam ser acusados de estar contra o poder, era questão de sobrevivência... assim como não duvido que boa parte dos oficiais gostava do que fazia.
    Infelizmente é um período vergonhoso e inesquecível para o país e os que sofreram essas barbaridades.

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    1. Realmente foi um período perverso! Vergonhosa Historia do Brasil.

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  3. Preciso ler, VOU ler. Sou dessa época (era adolescente)e muita coisa ainda não sei desse período. Recomendo a todos os jovens que leiam alguma coisa a respeito dessa era obscura pela qual o Brasil passou.

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    1. Devia ser difícil viver naquele período! Momentos tensos da história.

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  4. Gostei muito da forma em que você descreveu o livro. Sua resenha é muito boa. E embora você não goste da maneira do meu relato, procurei colocar de forma a separar o Carioca dos anos 1990 e o do de 1970.
    Os relatos dele, bem, os que me foram entregues são bem mais atormentados, mas achei por bem não enojar o leitor.
    A carga de informação era suficiente para que as pessoas pudessem entender um pouco dos porões.

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